sabe-me a café, os meus lábios. sabe-me ao sabor amargo do café sem açúcar que tomo de manhã. foi uma manhã de frio e chuva, amarga como o meu café. tenho o gosto na boca e o desejo na ponta da língua. sinto-o a remoer entre os meus lábios, a tocar nos dentes e a deixar-me na secura da vida. lábios ressequidos.
que foste tu fazer? tocar com a ponta da língua nos dentes, cortá-la sem dor.
queria poder saborear os teus lábios. esses talvez não saibam a café, nem a amargura matinal. talvez a tua boca já não tenha rasto de tabaco, e muito menos transborda de desejo carnal. talvez sentiria a falta do teu desejo, quando saboreasse a tua boca. talvez sentiria o gosto e o desejo que agora tens por outra pessoa. não seria o teu sabor, não seria o gosto dos teus lábios que sentiria.
só os meus continuam a saber a café. nunca saberás a que café sabem os meus lábios. mas digo que sabem a café, para quem nunca os saboreou.
Sem comentários:
Enviar um comentário