Não é que seja por mal, mas dez anos são muito tempo. O sorrir de palavras ocas que se ouvem durante 5 dias já nos afectam o pensamento como se a água morna lá de casa não bastasse para aquecer o corpo - que de morto já muito tem de si. Talvez se a lua não existisse, ou se o sol passasse a tarde a petiscar e se esquecesse que nós precisamos dele, pudéssemos afirmar, inseguramente, que a vida nos tinha traído e que era preferível morrer quando o autocarro passasse. Mas, aqui, o inseguramente demonstra que talvez não fosse bem isso que quiséssemos afirmar. Talvez a vida não traiu ninguém, nem o sol passou a tarde a petiscar, porque afinal de contas, a lua existe. Talvez o quadro que pintamos está escuro e sem luz porque fazemos por isso. Talvez a pintura se encontra esborratada porque usamos os dedos errados ao tentar torná-la perfeita. Talvez a arte de viver não é das coisas mais bonitas que há - e não, não é mesmo uma coisa bonita - porque a sua expressão negra tem algo inexplicável que define quantas gotas de água temos de aprender a saber contar para saber que aquilo que nos é entregue não passa de ar e nuvens sem significado e beleza alguma. Quero dizer, dez anos são muito tempo... mas não há nada aqui pelo que esperar. Porque a vida é o que é, uma obra de arte com intervenção de vários pintores mas cujo autor é só um, e malditos todos os outros que estragam sempre o retrato com objecções sobre a forma como a estamos a pintar.
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