E alguém, ao fundo do palco, por detrás da cortina, num estado lastimável após a cena I de uma peça qualquer, grita "vai para casa, já dormes com os pés a bater no chão". Interrompe-se um momento delicado onde o actor principal diz o que pensa sentir, mas não o sente, pela personagem sua companheira nesta peça e, em vez que tocarem os lábios, olham-se simplesmente. A plateia faz ruídos e ouve-se burburinhos de quem não está a perceber nada. Então volta-se a ouvir "vai para casa, já pouco fazes aqui". Descem uns passarinhos que estavam programados para tal no momento em que a rapariga principal da peça, a amada, confessa o quanto adorou aquele momento com o rapaz do papel principal. "Agora cantavas tu, oh mulher", voltam a dizer por detrás da cortina. A rapariga, sem perceber, faz o que lhe dizem, começa a cantar. E então voltam a gritar "Viram, viram? Só fazem o que lhes é mandado fazer... São marionetas nas minhas mãos. E tu, oh rapaz, sabes quem sou? Vai para casa, já te disse" E então o rapaz, em ar confuso grita "E a peça? Que faço com a peça?". Ainda olha em redor e procura atrás das cortinas e corre de canto a canto o palco mas já não vê ninguém, até que do público gritam "Fazes como a tua vida, pô-la a dormir".
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