Mateus saíu à rua. Antes de bater a porta olhou para mim e sorriu. “Volto já, Lúcia. Vou à cidade.” Afirmei com a cabeça que entendi e assim pegou no seu chapéu e bateu a porta.
Mariana andava em passos firmes. “Onde tem ele…? Ah! Encontrei! Homem trapalhão… como conseguia Lúcia arrumar tudo sozinha!?” falava sozinha no quarto de Mateus. Ouvi por várias vezes estas conversas atrás da porta…como Lúcia isto, como Lúcia aquilo, Lúcia além, Lúcia aqui. E era eu a mais velha! Bati à porta com os dois nós dos dedos. Os passos firmes de Mariana apressaram-se, não ao encontro da porta, mas mais além. Não falei, preferi assustá-la a pensar que era Mateus. Abri a porta e lá estava ela a tentar esconder a desarrumação que devia estar arrumada. “Lúcia!! Pensei que fosse o patrão! Podias ter falado antes de entrar…” disse aflita com uma respiração ofegante. “Para quê, Mariana?” disse enquanto me dirigia à janela “Para te acalmares? Porque sabes que metade do teu trabalho por aqui ainda não está feito?”. Olhar culpado aquele que me transmitiu. Não precisou de palavras, nem expressões, nem silêncios… “Desanda daqui, rapariga! Eu faço isto.” E nesse instante saiu Mariana, em passos rápidos e longos, do quarto de Mateus.
Arrumei tudo o que tinha de ser arrumado. Boa empregada esta moça! Fará tudo o que o menino lhe pedir, e daqui não sairá tão cedo!! E tão cedo não sairei, não. Estava a colocar os tapetes na varanda quando vi Mateus a chegar a casa. A porta da entrada bateu, os pés pesados subiram a escada e bateu duas vezes à porta, depois entrou. “Lúcia!?” Admiração. Admiração. Não gosto de admiração. “Mariana demorou muito tempo e mal arrumou o seu quarto. Pedi-lhe para sair e acabei o serviço.” Olhou para mim seriamente. “Já saio, Senhor” e enquanto virei-me para pegar nos tapetes e colocá-los no chão, ouvi a porta do quarto fechar. Ao voltar-me, Mateus estava encostado à porta de olhos semi-serrados, acabando por fechá-los. “Oh, que pedaço de tempo desperdiçado este!” voltou a abri-los e olhou para mim “Lúcia, desde pequeno que sei! E ainda bem, porque também sei que em ti posso confiar…” o momento parecia delicado, e não sabia o que fazer. Então, apressei-me e coloquei os tapetes no chão. Mateus aproximou-se e agarrou nas minhas mãos “Talvez ficarei sem nada e não sei que fazer… que faço Lúcia?” as lágrimas no seu rosto começaram a cair e eu não sabia que fazer. “Meu Senhor, não cabe a mim interferir nas decisões desta casa…não nas que lhe competem.”
Mateus caiu na cama e chorava. Chorava tanto que mal se via a cor dos seus olhos. Sentei-me à sua beira e acariciei-lhe o cabelo. “Que será de ti se tudo isto acabar?” (...)
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